sexta-feira, julho 28, 2006

Viagem Medieval em Terras de Santa Maria

Quis o destino que este blog fosse criado numa altura em que decorreu um acontecimento muito triste na história do concelho sede desta Associação. Não será forma certamente a melhor forma de iniciar um blog, mas certos timings não são por nós demarcados e porque é imperativo que uma Associação de defesa dos direitos dos animais grite em defesa deles, manda a nossa consciência que se processe assim...
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Viagem Medieval em Terras de Santa Maria


"No final desta semana irá dar início na cidade de Santa Maria da Feira a edição de 2006 da Viagem Medieval.
Aos poucos, este acontecimento cultural está a tornar-se um dos mais importantes desta cidade e a transformar-se numa tradição ao nível da Festa das Fogaceiras (salve-se as diferenças).
Neste evento, pretende recrear as realidades de épocas passadas, desde os tempos em que D. Afonso Henriques andava à conquista e expansão do reino de Portugal, até à época dos descobrimentos.
Tempos românticos dos cavaleiros e princesas, castelos e reinos, dos torneios e arraiais.
Mas igualmente tempos tormentosos das pestes e guerras, da inquisição e queimas de bruxas, de injustiças e execuções públicas.

Umas das facetas desse tempo era o chamado Sítio dos Tormentos onde “a justiça medieval tinha na praça o seu local favorito. Empicotamento, açoites, entreamento de mulheres “bravas” e mesmo as mutilações, eram castigos banais efectuados em praça pública.
Os criminosos de braços ao pescoço e mãos atadas, faziam um percurso pelas ruas do burgo, acompanhados de um pregoeiro que anunciava a sentença. Os justiciados eram sujeitos a um interrogatório, muitas vezes acompanhado de torturas e castigos, procurando desta forma, obter a prova da sua culpabilidade.

Tempos onde quem roubava um pão para matar a fome que o atormentava, era imediatamente condenado à forca, tivesse 7 ou 77 anos. Tempos onde a nobreza e o clero competiam e partilhavam entre si o reino e o povo. Tempos onde os senhores feudais punham e dispunham dos seus súbditos, explorando a sua mão-de-obra e violava os seus filhos, coisas que hoje em dia, creio, que todos unanimemente abominamos.

Tradições de outros tempos que felizmente foram desaparecendo paralelamente à evolução do ser humano e que hoje fazem parte da memória de uma sociedade e que são revividas e que são encenadas de forma a retratar o mais verosímil possível essa época.

Em tempos que já lá vão – nos tempos de nossos avós – maltratar um animal não causava remorsos à maioria das pessoas.
A geração seguinte já cresceu na crença que os animais também sentem e devem ser respeitados.
Um pouco após uma década do meu nascimento, era proclamada pela UNESCO e aprovada pela ONU, a Declaração Universal dos Direitos dos Animais onde se considera logo abrir que “TODO o animal possui direitos” e ao longo de toda a Declaração refere que estes têm de ser respeitados.

Esta Declaração foi aceite e tornada Lei na esmagadora maioria dos países que da ONU fazem parte. Alguns países, cuja população é por todos os aspectos considerada mais evoluída, não só a tornaram Lei, como a cumprem e fazem-na cumprir escrupulosamente.

Infelizmente países como Portugal, cuja evolução parece ter estagnado na Época Medieval, apenas se limitam a fazer leis decorativas, ou pior ainda, aprovar leis que vão contra uma Declaração também por nós ratificada e aprovada, pois Portugal também faz parte destes dois organismos – UNESCO e ONU.

Diz o Artigo 10º desta declaração:
“1. Nenhum animal deve de ser explorado para divertimento do homem.
2. As exibições de animais e os espectáculos que utilizem animais são incompatíveis com a dignidade do animal.”

Os “espectáculos” tauromáquicos são, vergonhosamente, autorizados pela legislação em vigor neste país. Uma legislação à margem da lei geral de protecção animal.
A justificação para a existência dessa excepção, prende-se com o facto de essa barbárie fazer parte da “tradição” portuguesa.
Excepção que vai contra todos os princípios da Declaração Universal dos Direitos dos Animais, nomeadamente no descrito no Artigo 3º:
“1. Nenhum animal será submetido nem a maus-tratos nem a actos cruéis.
2. Se for necessário matar um animal, ele deve de ser morto instantaneamente, sem dor e de modo a não provocar-lhe angústia.”
As touradas são a antítese deste artigo...
O touro é sujeito a actos cruéis e a maus-tratos desde a mais terna idade até à entrada na arena. Aí a crueldade intensifica-se e ele é morto lenta e dolorosamente, angustiando e ansiando a morte, que na esmagadora maioria das vezes apenas ocorre muitas horas após a saída da arena.

Injustificadamente esta tradição manteve-se e mantém-se no sul do país, fazendo prevalecer a vontade de uma boa meia dúzia de “senhores” poderosos, em tudo fazendo lembrar os senhores feudais da época medieval.

Inqualificáveis são as tentativas de alargar essa “tradição” a todo o território nacional, sob o olhar passivo de quem tem o poder para intervir e não o faz.

Domingo, 23 de Julho de 2006, foi um dia de vergonha e decadência para a cidade de Santa Maria da Feira.

Não sou Feirense e há poucos anos que frequento esta cidade. Mas neste pouco tempo como voluntário e há menos tempo como Presidente de uma Associação de defesa e protecção animal, julgo poder falar com toda a propriedade deste acontecimento que julgo ter sido o primeiro na história deste concelho.
Tenho a plena certeza que à esmagadora maioria dos feirenses passou ao lado este triste acontecimento. A mesma certeza prevalece que, contrariamente ao grupo recreativo organizador deste degradante evento, as pessoas desta cidade repudiam esta forma brutal de violência só comparada aos circos romanos do início da era Cristã.
As minhas certezas são confirmadas pelo secretismo com que a organização planeou tudo isto, havendo mesmo desconhecimento por parte da maioria das autoridades até à última hora.
Da parte da Aanifeira só tivemos conhecimento dois dias antes do mesmo. Cartazes muito tímidos espalhados em alguns pontos da cidade, como que anunciar uma execução pública de uma pobre alma condenada ao inferno.

Fomos tentados a agir, a protestar, a tentar por todos os meios evitar que esta barbárie se processasse. A minha vontade como cidadão comum, como amante da Vida e dos animais seria montar porta de armas na Zona Industrial do Roligo, em Espargo e impedir com todas as forças que os carrascos executassem a tortura para o qual tinham sido contratados.
No entanto, e porque lidamos diariamente com abandono e maus-tratos de animais, sabemos que o caminho não é, nem pode ser esse.

A nossa missão é consciencializar, alertar e precaver!

É nesse sentido e porque acreditamos na “vox populis” que optamos por dar voz às pessoas para que manifestem publicamente a sua opinião, abrir uma discussão pública para que de uma vez por todas a população portuguesa entre em definitivo no século XXI, e que as touradas façam parte de um passado tão longínquo como o é a Viagem Medieval."

Victor Correia de Barros


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