11 de Agosto de 2007. O dia em que a Aanifeira deu um salto qualitativo na vida dos animais que alberga.
Acredito que todas as vitórias na vida de uma associação animal são conquistadas de forma árdua e que a paciência e perseverança são as chaves para se conseguir um trabalho sério e vocacionado apenas para aqueles que albergamos.
No nosso caso particular, a falta de recursos financeiros obriga-nos a desmultiplicar-nos em bater em mil portas, levar com novecentas ausências de resposta (que são bem piores que um não), com noventa e nove promessas que nunca serão cumpridas, até que uma porta finalmente se abre. Agarramo-nos a essa porta com unhas e dentes e em nome daqueles que foram menosprezados por uma sociedade que não cumpriu com a sua obrigação, agradecemos profundamente este gesto de rara generosidade.
Foram dez árduos meses para se conseguir várias toneladas de aterro e alguém que se predispusesse a levar uma máquina capaz de efectuar uma terraplanagem. O parque onde supostamente os animais deveriam ser soltos para poderem espairecer, queimar energias e stress acumulado, já tinha o seu cercado há quase um ano, mas devido a um enorme desnível que originava acumulação de águas pluviais, nunca chegando a secar nem mesmo nos períodos mais secos, encontrava-se inactivo.
Mas finalmente esse dia chegou!
É indescritível o que sentimos na primeira vez que soltamos os primeiros cães no parque. Só posso mesmo descrever o que vimos.
Optamos por soltar os que na nossa perspectiva se encontravam nas piores condições. Aquele malfadado segundo corredor do pavilhão, onde a luz penetra indirectamente oriunda das janelas laterais do primeiro e terceiro corredores.
Escolhida a primeira box, onde residem seis cães entre o pequeno e médio porte, abrimos a porta da mesma. Os olhares assustados encostaram-se na parede do fundo, sem saberem muito bem o que fazer. “Vamos, venham” dizíamos. A porta da box completamente escancarada, caminho aberto para a saída. Encostavam-se ainda mais no fundo. Chamamos, daquela forma característica que todos se habituaram a chamar os cães, beijinho no ar “vem pequenino, vem cá”. Nada! Foram dias, semanas, meses, anos sem nunca ter saído da box… “é este o nosso mundo, porque querem que saiamos?”
Bem… o melhor mesmo é pegar neles e mostrar o que temos para lhes dar. Foi literalmente pegar neles ao colo, pois não estávamos a contar com aquela reacção e por isso nem trelas levamos. Tarefa nada fácil nalguns casos. Lembro-me de uma cadela que deve ter ingerido chumbo durante todos estes anos tal era o seu compacto peso.
Chegados cá fora, quase posso jurar que a primeira reacção foi arregalar os olhos. Pousamos no chão, olharam em redor, incrédulos com o que viam. O dia estava magnífico, como que a celebrar este lindo acontecimento. Após uns breves segundos e palavras de incentivo a alegria rebentou. Correr, brincar, saltar, cheirar novos cheiros, rebolar na terra, respirar ar fresco… VIVER! A alegria deles é absolutamente contagiante. Demos por nós a participar nas corridas e brincadeiras.
Alguns dos mais apáticos dentro das boxes, ganhavam vida cá fora, os velhinhos rejuvenesciam décadas, os que tinham uma pata partida ou defeituosa, corriam como se tivessem oito patas, até o Billy que é cego galgou todo o terreno, apercebendo-se que este tinha limites quando encostava a cabeça nos muros de vedação, voltando logo quase a trote noutra direcção exibindo a sua alegria cavando a terra e levantando poeira para todos os lados.
As reacções eram as mesmas, em todas as boxes. Primeiro medo, recusa em sair e cá fora, explosão de alegria.
Passado o tempo estipulado, voltavam com toda a tranquilidade para a box, visivelmente felizes e naturalmente um pouco fatigados.
Foi um pequeno passo dado. Para os animais que tiveram a felicidade de vir cá fora, tenho a certeza que ganharam novo ânimo, fé e esperança numa vida um pouco melhor, mesmo que esta seja o resto passada na Aanifeira.
Todavia existem neste momento cerca de 450 cães na Aanifeira e os voluntários são manifestamente insuficientes para poderem proporcionar a eles tantas saídas quanto o desejável. Para se ter uma ideia, nesse sábado apenas nos foi possível soltar 31 cães. Para quem não tem noção, isto necessita de ser gerido de forma a não haver perigo quer para os animais, quer para as pessoas. A gestão de um canil é bastante complexa. Precisamos de conjugar feitios e formas de estar, uns cães territoriais, outros submissos e ainda a existência de algumas hierarquias já estabelecidas que não podem ser perturbadas sob risco de quebrarmos o equilíbrio já existente.
Ou seja, a única forma de colmatar isso seria com um número de voluntários suficientes, com disponibilidade e fiabilidade para poderem proporcionar a todos os animais um momento periódico de liberdade que lhe daria uma qualidade de vida muito, mas muito superior à que dispõem neste momento.
É o nosso próximo desafio.
No link em anexo, poderá visualizar algumas imagens desse memorável dia.
http://aanifeira.googlepages.com/ParquedaPequenaFlor.pps
Victor Correia de Barros
Presidente
Acredito que todas as vitórias na vida de uma associação animal são conquistadas de forma árdua e que a paciência e perseverança são as chaves para se conseguir um trabalho sério e vocacionado apenas para aqueles que albergamos.
No nosso caso particular, a falta de recursos financeiros obriga-nos a desmultiplicar-nos em bater em mil portas, levar com novecentas ausências de resposta (que são bem piores que um não), com noventa e nove promessas que nunca serão cumpridas, até que uma porta finalmente se abre. Agarramo-nos a essa porta com unhas e dentes e em nome daqueles que foram menosprezados por uma sociedade que não cumpriu com a sua obrigação, agradecemos profundamente este gesto de rara generosidade.
Foram dez árduos meses para se conseguir várias toneladas de aterro e alguém que se predispusesse a levar uma máquina capaz de efectuar uma terraplanagem. O parque onde supostamente os animais deveriam ser soltos para poderem espairecer, queimar energias e stress acumulado, já tinha o seu cercado há quase um ano, mas devido a um enorme desnível que originava acumulação de águas pluviais, nunca chegando a secar nem mesmo nos períodos mais secos, encontrava-se inactivo.
Mas finalmente esse dia chegou!
É indescritível o que sentimos na primeira vez que soltamos os primeiros cães no parque. Só posso mesmo descrever o que vimos.
Optamos por soltar os que na nossa perspectiva se encontravam nas piores condições. Aquele malfadado segundo corredor do pavilhão, onde a luz penetra indirectamente oriunda das janelas laterais do primeiro e terceiro corredores.
Escolhida a primeira box, onde residem seis cães entre o pequeno e médio porte, abrimos a porta da mesma. Os olhares assustados encostaram-se na parede do fundo, sem saberem muito bem o que fazer. “Vamos, venham” dizíamos. A porta da box completamente escancarada, caminho aberto para a saída. Encostavam-se ainda mais no fundo. Chamamos, daquela forma característica que todos se habituaram a chamar os cães, beijinho no ar “vem pequenino, vem cá”. Nada! Foram dias, semanas, meses, anos sem nunca ter saído da box… “é este o nosso mundo, porque querem que saiamos?”
Bem… o melhor mesmo é pegar neles e mostrar o que temos para lhes dar. Foi literalmente pegar neles ao colo, pois não estávamos a contar com aquela reacção e por isso nem trelas levamos. Tarefa nada fácil nalguns casos. Lembro-me de uma cadela que deve ter ingerido chumbo durante todos estes anos tal era o seu compacto peso.
Chegados cá fora, quase posso jurar que a primeira reacção foi arregalar os olhos. Pousamos no chão, olharam em redor, incrédulos com o que viam. O dia estava magnífico, como que a celebrar este lindo acontecimento. Após uns breves segundos e palavras de incentivo a alegria rebentou. Correr, brincar, saltar, cheirar novos cheiros, rebolar na terra, respirar ar fresco… VIVER! A alegria deles é absolutamente contagiante. Demos por nós a participar nas corridas e brincadeiras.
Alguns dos mais apáticos dentro das boxes, ganhavam vida cá fora, os velhinhos rejuvenesciam décadas, os que tinham uma pata partida ou defeituosa, corriam como se tivessem oito patas, até o Billy que é cego galgou todo o terreno, apercebendo-se que este tinha limites quando encostava a cabeça nos muros de vedação, voltando logo quase a trote noutra direcção exibindo a sua alegria cavando a terra e levantando poeira para todos os lados.
As reacções eram as mesmas, em todas as boxes. Primeiro medo, recusa em sair e cá fora, explosão de alegria.
Passado o tempo estipulado, voltavam com toda a tranquilidade para a box, visivelmente felizes e naturalmente um pouco fatigados.
Foi um pequeno passo dado. Para os animais que tiveram a felicidade de vir cá fora, tenho a certeza que ganharam novo ânimo, fé e esperança numa vida um pouco melhor, mesmo que esta seja o resto passada na Aanifeira.
Todavia existem neste momento cerca de 450 cães na Aanifeira e os voluntários são manifestamente insuficientes para poderem proporcionar a eles tantas saídas quanto o desejável. Para se ter uma ideia, nesse sábado apenas nos foi possível soltar 31 cães. Para quem não tem noção, isto necessita de ser gerido de forma a não haver perigo quer para os animais, quer para as pessoas. A gestão de um canil é bastante complexa. Precisamos de conjugar feitios e formas de estar, uns cães territoriais, outros submissos e ainda a existência de algumas hierarquias já estabelecidas que não podem ser perturbadas sob risco de quebrarmos o equilíbrio já existente.
Ou seja, a única forma de colmatar isso seria com um número de voluntários suficientes, com disponibilidade e fiabilidade para poderem proporcionar a todos os animais um momento periódico de liberdade que lhe daria uma qualidade de vida muito, mas muito superior à que dispõem neste momento.
É o nosso próximo desafio.
No link em anexo, poderá visualizar algumas imagens desse memorável dia.
http://aanifeira.googlepages.com/ParquedaPequenaFlor.pps
Victor Correia de Barros
Presidente