domingo, outubro 08, 2006

Aanifeira - Ventos de mudança

ESTA É A NOSSA OBRA - AJUDE-NOS A CONTINUA-LA

Caros amigos dos animais:

Venho pelo presente pedir a sua ajuda para a concretização de um projecto que se pretende sério e de continuidade.

Vou tentar transmitir um relato realista e desprovido de qualquer sentimentalismo ou auto comiseração. Tarefa nada facilitada pelo facto de sermos movidos pela paixão pelos animais. Também não pretendo escamotear qualquer realidade e por isso farei todo o esforço para dar a imagem tão real quanto me é possível.

Antes de mais gostaria de me apresentar. Meu nome é Victor Correia de Barros (algumas pessoas que estão a ler este e-mail já me conhecem destas “andanças”) e sou, desde Fevereiro do corrente, altura em que se realizaram as eleições da associação, Presidente da Aanifeira. Assumi o comando desta nau, juntamente com uma direcção totalmente renovada, com o compromisso sério de trabalhar, lutar e mudar por completo o rumo que esta associação estava a levar.

Quando entrei na Aanifeira pela primeira vez, o choque foi tremendo. Fui invadido por uma série de sentimentos... dor, revolta, tristeza, incredulidade, angústia... queria fechar os olhos e sair daquele cenário dantesco rapidamente, queria esquecer o que tinha visto, queria ignorar a existência daquele “gueto” ou campo de concentração...

No entanto, nos dias que se seguiram não fui deixado em paz pela minha consciência que me dizia que tinha de fazer algo. Sem saber muito bem o quê, comecei a ponderar a ideia de ser voluntário e tentar mudar algo.
Sempre acreditei que para haver mudança, é preciso inserção e participação. A posição cómoda de ficar de fora a criticar o que está mal e condenar quem tenta fazer algo, não se coaduna com a minha forma de ser e de estar.
O impulso final foi dado pela Lígia Santos da SOSAnimal. Tínhamos estabelecido o primeiro contacto há pouco tempo por força de um apelo feito por mim relativo a uma cadela de nome Mel. Foi a Mel que me levou a pedir ajuda e albergue à Aanifeira a qual fui buscar na semana seguinte por achar que não era justo tira-la da rua para a meter ali...
A Lígia predispôs-se a ajudar-me, colocando à disposição os recursos da SOSAnimal.

Aos poucos comecei a integrar-me e a trabalhar arduamente numa autêntica missão impossível. Por muitas palavras que utilize, jamais conseguirei descrever com o que me deparei à medida que ia avançando.
Dificuldades em tudo que tentava fazer e o número de animais não parava de crescer por força da contínua recolha, reprodução e resgate dos animais do canil municipal.

Por vezes o desespero era total. A vontade de desistir e voltar as costas era enorme. Para ter forças para continuar, comecei a dedicar-me a pequenas vitórias.
Com a ajuda da SOSAnimal iniciamos a divulgação pela Internet, criamos uma caixa de e-mail, páginas no site da SOS, participação em algumas Campanhas e Eventos. Esse trabalho traduziu-se no imediato no aumento em 200% do número de adopções sendo que a esmagadora maioria eram crias reproduzidas e nascidas na Aanifeira. Ou seja, não se estava propriamente a combater o problema mas antes a paliar dentro de portas e a propaga-lo fora destas.
Claro que nem tudo era mau ou errado! Foram feitas algumas acções dignas e estou ciente que a maioria dos animais adoptados estão bem e interferimos definitivamente para a mudança da vida deles.

Em Março de 2005 a Aanifeira bateu no fundo... As dívidas a fornecedores (nomeadamente de ração) avultaram-se e vimo-nos numa situação desesperada ao ponto de estarmos 4 dias sem um grão de ração para dar aos animais.
Na urgência e nos momentos de crise como este, é imperativa uma rápida intervenção e com a ajuda da Maria Pinto Teixeira, lançamos um “mega” apelo a nível nacional via internet que se estendeu à comunicação social – jornais, rádios e televisão relataram a grave situação em que a Aanifeira se encontrava. Foi ouvido e compreendido por diversas pessoas e entidades de todo o Portugal e no estrangeiro (França, Suíça, Alemanha, Japão, só para enumerar alguns), que de imediato nos fizeram chegar ajuda, nomeadamente em comida e dinheiro.
Havia uma questão complicada de ultrapassar por causa dos donativos, pois por questões legais não resolvidas, a associação não dispunha de conta bancária para receber donativos e a tesouraria estava um pouco tripartida... Um pouco a revelia, e também devido à urgência da situação, assumi a responsabilidade da tesouraria colocando à disposição a minha conta bancária e o meu NIB até se ultrapassar os problemas burocráticos.
Progressivamente e com a ajuda de muita gente conseguimos reunir verbas para liquidar algumas dívidas e criamos um banco alimentar que nos permitiu respirar um pouco e sair do imenso buraco em que estávamos metidos.

Foi o início da viragem!

Com toda esta situação começaram a surgir pessoas a querer ajudar mais um pouco e a formar um grupo de voluntariado.
Muitos foram os que chegaram, viram e não aguentaram. Não aguentaram as condições, o sofrimento, o trabalho...
Mas outros vieram e acreditaram que podiam fazer a diferença.
No início do Verão do ano passado, o grupo de voluntários então no activo e liderada por mim, fez pressão e impôs uma medida para que não fossem recolhidos mais animais. Um pouco após, a Câmara Municipal determinou que a Associação não poderia resgatar mais animais do canil por força de uma inspecção realizada.
Esta inspecção, apesar de colocar em causa a continuidade da Aanifeira, deu-nos força para lutar pela mudança que se impunha. Foi o tempo de organizar o grupo de trabalho e “forçar” a convocação de eleições para que estas alterações se efectivassem.

Estas alterações, no entanto, iniciaram-se uns meses antes das eleições com uma aposta clara na divulgação e na realização de campanhas e eventos.
Começaram a realizar-se não só a nível local, com a nossa presença mensal num hipermercado de Santa Maria da Feira, e em festas populares nas freguesias e concelhos limítrofes, como também a nível nacional, com presença em várias localidades onde nos era possível estar – FIL em Lisboa; Exponor no Porto; Exposalão na Batalha; Feiras de Leiria, Penafiel, Matosinhos, Cortegaça, etc.
Para dar um pouco mais de força à nossa imagem e credibilidade, convidamos algumas personalidades para apadrinharem a Aanifeira, que aceitaram de bom grado após (re)conhecerem o nosso esforço – Miguel Vieira (estilista), Sandra Cóias (modelo/actriz) e os EZ-Special (grupo musical).
Realizamos três festas com o intuito de divulgação e de angariação de fundos às quais denominamos a que passaria a ser a nossa marca comercial – Cats & Dogs – acrescentando o Party para a festa em questão – em S. João da Madeira (Citrus Bar), em Santa Maria da Feira (discoteca Maria.pt) e no Porto (discoteca Estado Novo).
Criamos uma linha de artigos para venda com a mesma marca – t-shirts e swets, lápis, canetas, pins…
Conseguimos espaços semanais em Jornais locais – Terras da Feira, Correio da Feira, O Labor e O Regional e alguns espaços esporádicos em jornais nacionais como o Jornal de Notícias, Correio da Manhã, 24 Horas e Destak.
Iniciamos algumas palestras de sensibilização em escolas e centros sociais.

Paralelamente a isso, fomos trabalhando também internamente, apesar de todas as dificuldades, problemas e obstáculos. Iniciamos alguns ciclos de esterilizações. Efectuamos pequenas obras de limpeza (o abrigo estava a entrar em degradação total) recorrendo a todos os recursos possíveis e imaginários para do pouco fazer muito. Destaco aqui a título de exemplos a solicitação que fizemos ao 3º Regimento de Engenharia de Espinho que efectuou um trabalho de limpeza extraordinário sob o signo de trabalho comunitário; e um grupo de jovens voluntários de Braga vieram à Aanifeira em duas ocasiões efectuando também eles todo um serviço de limpeza a fundo, pintura e algumas reparações – este grupo, não sei se por influência das visitas efectuadas à Aanifeira, acabaria por fundar uma associação na cidade de onde são oriundos – a ABRA e têm feito um trabalho absolutamente extraordinário.
Angariação de novos sócios, criação de um sistema de apadrinhamentos para quem não pode adoptar ou quer ajudar de uma outra forma.

Mas para as grandes mudanças terem lugar, era necessário haver uma nova liderança.
Ao longo deste tempo aqueles voluntários que foram ficando e acreditaram que poderiam fazer algo pela Aanifeira, acabaram por formar o núcleo duro da mesma. Desse núcleo nasceu um grupo que viria a formar a lista candidata à nova direcção da Aanifeira.

Sete meses após, é altura de efectuar um balanço, transmitir o que já foi feito e dizer o muito que ainda há para fazer.

O programa de acção desta direcção passava por três áreas – Burocrática, Divulgação e Campo. Em pouco mais de meio ano fizemos mais do que nos propúnhamos fazer no biénio do nosso mandado.

Burocracia – Regularizamos as situações fiscais e legais da associação. Além de passarmos a estar dentro da legalidade, esta situação permitiu-nos numa primeira abordagem a abertura de contas bancárias, algo pelo qual já vinha lutando há muito tempo porque a conta utilizada até então era a minha.
Posso já anunciar uma conta da Aanifeira aberta para onde poderão ser efectuados os donativos, pagamento de quotas e pagamentos do nosso “merchandising”, no BPI – 0010.0000.37320420001.24.
Esta “legalidade” também nos permite candidatar-nos a outros projectos nos quais já estamos a trabalhar e que em tempo oportuno serão comunicados.

Divulgação – Mantivemos as campanhas e eventos marcando presença em locais importantes e estratégicos. Além disso passamos a imprimir uma dinâmica muito pró-activa que nos trouxe muitos mais benefícios em termos de apoios e resultados em termos de divulgação.
Reforçamos as nossas posições nos jornais, procurando sempre a divulgação e sensibilização; estivemos a convite da RTP por 5 vezes nos programas “Praça da Alegria” e "
Portugal no Coração" e numa das vezes foi feito dois directos “in loco” nas instalações da Aanifeira; há cerca de um mês conseguimos um espaço numa rádio regional, em horário nobre. A rádio é a RCF – Rádio Clube da Feira, 104.7 F M do distrito de Aveiro (em alguns locais do distrito do Porto também é audível). O programa chama-se “O melhor amigo do cão” com transmissão à segunda-feira das 19 às 20 horas. O objectivo é o mesmo – sensibilização e divulgação.
Criamos um blog onde podem ser vistas algumas notícias da Aanifeira, entre as quais este relato na íntegra –
http://aanifeiranoticias.blogspot.com – e estamos a trabalhar no novo site da associação que se pretende mais dinâmico e rotativo.

Campo – o objectivo principal desta área e para a qual as duas anteriores estão vocacionadas, é proporcionar aos animais um local condigno e com as melhores condições possíveis. Naturalmente que este é um trabalho que nunca terá fim, porque é de facto nosso objectivo que os animais tenham cada vez mais e melhor.
Dentro deste pressuposto, existem duas vertentes.
A primeira, e preferencial, é que seja um local de passagem até o animal ser adoptado. Nesta passagem, pretende-se recuperar o animal do trauma do abandono e de eventuais problemas de saúde, apostando de seguida na sua divulgação para que tenha uma boa adopção.
A segunda vertente é para aqueles animais, que devido à sua condição – idade avançada, deficiência ou inestética (esta última naturalmente muito discutível) – nunca será adoptado. Como a prática da eutanásia na Aanifeira é último dos recursos e aplicável apenas e só quando o animal está em sofrimento e não há recuperação possível, haverão animais que serão residentes até ao fim dos seus dias. Então a nossa aposta passará por lhes oferecer o melhor que podemos e estiver ao nosso alcance para compensar a falta de um lar.
Para atingir estes objectivos a nossa aposta passa por algumas áreas de relevante importância.
A primeira passa forçosamente pela redução da população. É incomportável, pelos variadíssimos motivos, viver com uma sobrepopulação, a principalmente pelo espaço que os animais necessitam para terem alguma qualidade de vida. Do incrível número de 750 animais em meados do ano passado, passamos para o ainda não ideal 550 em Setembro do corrente. Ainda assim estamos longe do ideal (este número seriam à volta de 400 após finalização das obras). Conseguiu-se esta redução em primeiro porque recusamos determinantemente a entrada de animais, por muito dramáticas que sejam essas situações (e surgem diariamente) e por muito que nos doa bem fundo não poder acudir. A ajuda que nos propomos a dar é através da divulgação e das campanhas e já temos conseguido ajudar muitas pessoas que nos vêm pedir ajuda. Segundo porque conseguimos, apesar da muita dificuldade e à desordem ilógica em que os animais se encontravam, evitar quase a 100% o nascimento de crias. Terceiro devido às apostas na adopções bem sucedidas de adultos. E por último devido às razões da natureza que determina o prazo de vida dos seres vivos.
O grande objectivo da redução da população para os mínimos possíveis, tem em vista a Aanifeira poder voltar a cumprir propósito para que foi criada – recolher, albergar e tratar animais abandonados. Acreditem que ninguém quer mais isso do que nós! Só que neste momento é-nos impossível.
A segunda área da nossa aposta passa pela profilaxia e saúde dos animais. Para o efeito, contratamos profissionais da área Veterinária e estabelecemos protocolo com uma clínica veterinária.
Com este serviço na Aanifeira, os animais adoptados vão desparasitados, vacinados e com microchip, aplicando-se uma taxa de adopção. Mas isto é apenas o que é visível para o grande público, porque na verdade é uma pequeníssima parte do trabalho Veterinário que está a ser feito (apesar de o considerarmos muito importante para a saúde e segurança do animal adoptado).
Nestes 7 meses já esterilizamos mais de 90 animais (pode parecer um número não muito elevado comparativamente à população, mas é um esforço financeiro enorme para uma associação sem fins lucrativos, mesmo tendo um protocolo com a clínica que o reduz substancialmente), efectuaram-se algumas cirurgias de patologias graves e conseguiu-se controlar (ainda não erradicar, infelizmente) um flagelo que não sendo grave, afecta e prejudica pelos vários motivos – a sarna. Além de muitas outras situações, a presença de um olho clínico detecta muito mais facilmente patologias que um olho leigo não vê e isso tem-nos evitado males maiores.
A terceira área e talvez a mais importante de todas é as obras. Considero que nesta área foi a maior vitória desta direcção, contudo é aquela que nos coloca em maiores dificuldades financeiras.
Foi uma vitória da diplomacia. Se até então Câmara Municipal e Aanifeira estavam de costas voltadas, passaram a ter um relacionamento bastante cordial porque fomos capazes de demonstrar que queríamos fazer um trabalho sério e capaz. Naturalmente que a Câmara de Santa Maria da Feira, como muitas outras câmaras deste país, não vive numa situação económica desafogada e infelizmente para nós, e para muitos como nós, a causa animal não é prioritária. No entanto o Vereador do nosso pelouro encontrou alguns meios de ajudar, disponibilizando, ou encontrando pessoas que disponibilizassem, materiais de construção.
Foi também uma vitória de uma boa gestão económica. Os vários donativos que nos têm sido oferecidos, conjuntamente com algumas ofertas, nomeadamente de empresas de ração, mas também muitas outras ajudas conjuntamente com um sacrifício tremendo que tem sido feito, permitiram-nos dar um pequeno passo para pagar parte da sempre muito cara mão-de-obra.
Só que infelizmente é insuficiente…

Precisamos de mais. De muito mais para poder continuar a obra que foi feita até aqui, porque este impacto inicial é de elevada monta e por muito esforço que façamos e posso garantir que tem sido um esforço brutal, sozinhos nunca conseguiremos.

Precisamos da ajuda de todos e acredito que com essa ajuda conseguiremos concretizar o sonho de tornar a Aanifeira num local onde um animal tenha uma qualidade de vida tão próxima quanto possível de um lar.

O meu apelo vai nesse sentido e é dirigido a particulares e empresas que queiram fazer parte desse sonho.
A particulares que por muito pouco que a sua ajuda lhe possa parecer, pode fazer toda a diferença.
Às empresas endereço o convite de estabelecer parcerias que possam ser vantajosas, porque acredito que tanto a Aanifeira como aqueles que se juntarem a nós irão tirar dividendos num futuro não muito longínquo. Ficaremos muito honrados em publicitar parcerias e patrocínios, tanto no nosso site e e-mail como em todos os meios de comunicação que nos forem permitidos.

Termino este longo relato convidando a ver a nossa obra, ou através das fotos publicadas numa página do nosso e-mail cujo o endereço é o http://aanifeira.googlepages.com/home
, ou vindo visitar-nos pessoalmente na Zona Industrial de Mosteirô em Santa Maria da Feira.

Citando um membro da minha direcção – “Juntos podemos fazer a diferença”

Obrigado pela sua atenção

Victor Correia de Barros
Presidente

5 comentários:

Anabela Diniz disse...

Olá Vitor

Os meus muito sinceros parabéns. especialmente depois de tudo o que passaram. se quiserem mais algum ditio para divulgar os vossos apelos/obras digam.me. tenho um pequeno blog de ajuda aos nossos amigos onde vou publicando emails que me enviam de ajuda. www.umamigoparasempre.blogspot.com

Gostaria de ver os vossos .pps com as fotos mas cada vez que os descarrego dá erro na visualização. Será que podem ver o que se passa ?

Obrigada
Anabela

susana feijóo disse...

Acabei de ler e ver o vosso trabalho. Que tarefa tão dificil...que trabalho magnifico o já executado! Que vontade que mais seja feito!
Bem hajam!! Todos...os que fazem, os que ajudam a que seja possivel. Os animais merecem, quem luta por eles no dia a dia também.
PS- Vai ser desta que me vou meter à estrada e vou conhecer esta obra e estes animais ;-)

Anónimo disse...

Parabéns pelo vosso trabalho e desejo-vos muitas felicidades para a vossa obra! Que venham esses ventos...

Cumprimentos,
Américo Dias

Anónimo disse...

Parabéns, parabéns e parabéns!!!
Acabei de ver o vosso trabalho (obras), li também o Vosso projecto. Espero, torço para que continuem com essa força na ajuda aos canitos. Eles merecem!!!
Deu gosto ver o vosso site. Qualquer dia, apareço aí para Vos conhecer.
Felicidades!

Anónimo disse...

Um trabalho de louvar.Continuem, e da minha parte tudo farei para vos ajudar! O dinheiro pode ser pouco mas quando bem utilizado não é desperdiçado. Bem hajam...

Jinhos
Ana Marote